sábado, 22 de outubro de 2011

Cheiro de Giz

O jeito que o nariz resseca e as narinas incomodam. É. Essa é pior parte dos quadros negros.
Tenho que me forçar pra não me concentrar demais nisso enquanto dou aula. Quando eu ainda estava bem verde, já me peguei mais de uma vez devaneando no meio da aula, as mãos e as bocas refugiando-se em conteúdo raso e apático, enquanto a mente vagava pelos corredores da obscessão igualmente rasa e apática.

Foi a poeira de giz que me chamou atenção para a Aberração pela primeira vez. Não sei qual outro nome dar para o horror que me persegue. Provavelmente estou ficando louco, mas tudo que li até hoje me consola com o seguinte factóide: se eu me preocupo com minha sanidade isso é bom sinal. O perigo está no momento em que isto não for mais importante.

Depois de uma aula particularmente cansativa sobre literatura russa para os alunos da disciplina introdutória, notei algo peculiar enquanto apagava o quadro. Um pequeno círculo, pouco mais cinco centímetros de diâmetro, logo à frente do meu pé direito permanecia perfeitamente limpo, enquanto todo o chão em volta estava coberto da poeira caústica. Achei curioso e tentei passar o pé por cima, pra espalhar a poeira e desfazer aquela pequena ilha de limpeza em meio à neve alcalina. Feito isso, esqueci prontamente o pequeno fenômeno e me pus a trabalhar novamente.

Poréem, ao final da aula seguinte o mesmo círculo estava lá, em outra sala, outro quadro, outros gizes. Mas lá estava o pequeno círculo novamente. Repeti o movimento para apaga-lo com poeira e, como antes, ele se fora.

Mas agora minha curiosidade havia sido incomodada.

E em todas as outras aulas, o círculo estava lá, algumas vezes tênue, mas estava lá. Não importava a sala, ou o quadro, ou os gizes. Lá estava o círculo onde a poeira não assentava.
Testei com outros materias semlhantes, e mesmo o pó de giz que se acumula nos aparadores dos quadros. Derramava o pó a uma pequena distancia dos dedos do meu pé direito, e lá o círculo se formava. Quando repeti este experiemento pela décima nona vez, as Vozes vieram.

Elas me disseram que fizeram o círculo para me chamar atenção, e que eu não o veria mais. A partir de então elas começaram a me dizer muitas coisas.

Muitas coisas.

Elas me disseram nomes que fizeram meus intestinos revoltarem-se, mesmo sem nunca te-los escutado. Me disseram sobre mundos atrás do mundo, portas atrás do ar e coisas mais antigas que o homem. Me disseram como eramos animais tolos,e precisavamos de líderes como elas. Como elas perderam seu domínio férreo sobre esse mundo eras antes da humanidade surgir como acreditamos e como precisavam recuperar a soberania, para o bem do mundo e de nós. Como elas haviam me escolhido para ajuda-las, como eu era especial. Como tudo e toda qualquer variação de crença humana era tola e superficial, seja ela ciência ou religião. E como eu seria um instrumento de uma nova era do mundo.

Eu as ignorei estoicamente até que elas causaram o primeiro incidente.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Epsilon Corvis III - Vesuvius

Rebeca Dieyi já sabia o que a esperava no fim daquele turboshaft. Reprimanda. Humilhação. Suas cotas de érbio e disprósio estavam abaixo do esperado para o trimestre, e ela só podia culpar a si mesma. Nunca deveria ter trazido minha família para Vesuvius, torturava-se.

De fato, Épsilon Corvis III, mais recentemente batizado como Vesuvius, é a nova galinha dos ovos de ouro para Casa Triskelion, e consenquentemente para Doelle & Lorian, Inc. Ilya Triskelion em pessoa estava no planeta no momento, supervisionando as intalações dos Engenhos Crioaritméticos. Cada Engenho, ocupando aproximadamente 200 metros quadrados, era um crime grave contra o universo na opinião de Rebeca. O trabalho da máquina infernal é utilizar de um paradoxo de computação quântica para criar um infração controlada da segunda lei da termodinâmica, resfriando o universo a sua volta. Ela ainda não havia esquecido o desastre em Sigma Parvati quando um desses monstros apresentou uma falha catastrófica. "Mas isso foi há 60 anos minha cara" Lady Ilya tentava apaziguá-la, "A tecnologia foi refinada desde então. Veja como conseguimos diminuir os Engenhos! De "colossal" para simplesmente "bem grande" em apenas meio século.".

Mas os Engenhos eram a última das preocupações de Rebeca agora. Desde que Hélio e as meninas haviam chegado, sua vida consistia em resolver crises, ou nas Arqui-Extratoras, nas refinarias, nas nanoforjas ou, e de longe as mais sofridas, em casa. Hélio não conseguia se adaptar. A sociedade de Vesuvius não tinha espaço para um xenolinguista ou Hialo-artista de 0g, as principais ocupações de seu marido. Os Triskelion valorizavam imensamente a companhia de Hélio, mas nunca estavam tempo o suficiente no planeta para fazerem o papel de amigos ou patronos de forma satisfatória. Rebeca observava assim seu marido dar um pequeno passo para a depressão a cada dia passado.

Ela não acreditaria se vocês contassem a ela que daqui a um mês-padrão, estes dias negros seriam lembrados com saudade por todos que chamavam Vesuvius de lar.

Never Really Beginning, Never Really Ending

Always and ever, we only got Five Years.

Há algum tempo atrás, antes de mais um dos ritos de passagens do tipo de vida que escolhi, fiz uma promessa a mim mesmo: voltar a escrever.

Escrever sempre foi algo que me deu prazer, e sempre que tive a sorte de cativar alguém com algum pedaço de prosa ou poesia foram momentos realmente saborosos, realmente prazerosos.

Mas não sei se existe muito espaço para o tipo de coisa que gosto de escrever atualmente. Olhando a blogosfera brasileira e de língua portuguesa em geral, vejo que a grande maioria dos blogs mais visitados são exatamente o tipo de fabricação superficial que não me agrada muito.

Então minha decisão é escrever o que me agrada, seja lido ou não, apreciado ou não. E muitas das postagens serão em inglês, porque infelizmente o público pra Sci-Fi/Fantasia é muito maior entre os anglófonos do que entre lusitófonos. Pena.

Então, se você está lendo isso e ficou curioso, nos visite às segundas, quartas e sextas, que prometo que você encontrará algum pedaço dos meus mundos internos. Absolutamente irreais, e absoltamente sinceros.

Qualquer semelhança com a realidade é pura e indesejada coincidência.

LLAP!